
Sei bem que está série por si só já é um fenômeno absoluto mundo a fora, com
gleeks, prêmios e músicas baixadas em quantidade absurda. O sucesso da mesma pode ser creditado a uma soma de fatores incontestáveis, como a conjunção das personagens (os ditos
Losers/Rejeitados), além das boas versões musicais adicionadas ao humor e o belo elenco – destacando a fabulosa Jane Lynch no papel de Sue Silvester. Para mim, todavia, esta paixão tem outra motivação:
Eu tive um Glee Club em minha vida (Não nos exatos moldes do seriado, mas muito similar no sentimento e resultado).
Quando mais nova expressar-me era um desafio absurdo – fosse verbal, física ou mesmo mentalmente. Algo tão vital para o ser humano era um verdadeiro mistério para mim. Pelo menos cria nisto, até que na oitava série resolvi fazer parte do grupo de teatro do meu colégio; Assim, sem mais nem menos. Claro que a estranheza foi geral, acompanhada daquele famoso tom de descrédito. Afinal, como uma das gurias mais tímidas da turma iria expor-se em um palco? Ações inesperadas rendem finais inesperados. Esta máxima manteve-me. Sempre desejei ser inesperada.
O primeiro ano foi lento, já que a professora da época não dispunha do tempo necessário para o empenho que o teatro pede. Apenas no ano seguinte, quando estava no 1.º ano do 2.º grau, que provei da mudança. O colégio contratou Lecy, que há muito trabalhava e participava de oficinas teatrais, sendo reconhecida por ter um gênio difícil (algo que nunca me assustou). Principiou impondo ordem e estabelecendo um ritmo esforçado de trabalho. Houve os que desistissem de cara, os que aguentaram por um determinado período e os que se entregaram de corpo e alma nesta jornada. Eu fazia parte do último grupo.
A cada novo exercício que desafiava o limite pessoal, a cada nova faceta descoberta, a cada personagem criada, algo se estabeleceu em mim, uma confiança íntima em minha força expressiva. Por que durante anos temi falar com minha voz, minha escrita, meu corpo? Nada disto soava um obstáculo agora; Estava aprendendo a respeitar minha pessoalidade e a entender o meu potencial.
Sei bem que este sentimento de responsabilidade íntima, de dedicação e vontade não se formou apenas em meu ser; Mas, sim, em cada um dos componentes do grupo. Grupo este que, assim como em Glee, era constituído de tipos bem diversificados, várias idades, várias histórias, vários interesses – que serviriam de liga no aprimoramento. Se não fosse o teatro estaríamos alheios a existência uns dos outros; Todavia, quando alçávamos os pés até o chão sagrado do palco as dúvidas e diferenças dissipavam-se, éramos uno.

Das personagens criadas por Ryan Murphy, faria uma comparação entre eu e Tina: Ambas tímidas, escondidas em falsas particularidades, além da paixão por usar roupas não tão comuns (eu costumava customizar todas as minhas peças). Nós duas buscávamos a expressão, sem conhecer o caminho para tal.
No episódio final desta temporada, o qual revi incontáveis vezes, fiquei extremamente tocada com um dos números musicais – talvez o meu preferido de toda a série. No instante em que resolvemfazer uma homenagem a Will Schuester (seu professor) cantando a bela e imortal “To Sir, With Love”. Ao ver aquela cena compreendi a magnitude e a importância do que eu vivi no teatro, do que eu aprendi com Lecy e meus companheiros de jornada. Torço que meus filhos possam um dia experimentar de algo similar. Experiências que modificam vidas.
Para terminar esta minha postagem e, ao mesmo tempo, reverenciar ao que vivi durante cerca de quatro anos da minha formação, deixo a música/cena acima citada.
Felizes dos que se encontram no meio das A-Diversidades.