Eu estava no escritório quando recebi um telefonema de minha mãe. A voz dela soava atordoada como poucas vezes ouvi. Antes mesmo da conversa fiada que vem após o Alô instalar-se, disse ela trêmula: "Aconteceu uma tragédia".
Eventos como o de Realengo balançam a todos. O dia que nascia em seu mais perfeito estado, mudava de cor sem que o clima se alterasse. Ao invés de palavras consoladoras, o que nos coube foi o insistente questionamento:
Por quê?
Ainda que se analise, elenque-se fatores, trace-se perfis, as soluções esperadas parecem esvair-se a cada nova descoberta inútil. Após o choque imediato somos invadidos pela dor, pura e inequívoca, somada a uma falsa sensação de que o fim da tempestade chegou. Quão tolos! Passaram-se apenas dias da tragédia de Realengo quando novamente enfrentamos novo temporal;
Desta vez na Holanda, num shopping de uma pequena e - provavelmente - pacata cidade.
O fator comum? Não sei. Talvez nem haja. E se houver, que diferença fará? Mais de uma ocasião - ocasiões por demasia - encaramos momentos similares. Efetivaram-se melhorias? Mudou-se perspectivas? Encontrou-se uma solução efetiva? Continuamos sem respostas. Tinha eu um professor que sempre recomendava: "Se não encontrou a resposta é porque não fez a pergunta correta". Nestas ocorrências em particular deixo de crer que exista algo como uma redonda questão exata.
O que leva uma pessoa a sair de seu estado natural e matar aleatória e indiscriminadamente? Os meios de comunicação e os especialistas apresentam uma gama variada de plausíveis motivações e fatores contributivos, nenhum preciso em seu propósito. Nenhum capaz de acalentar nossas almas.
Quando eu tinha 11 anos sofri um acidente grave de carro. Um ônibus bateu em um caminhão lenheiro, gerando em seguida um engavetamento de quilômetros, vitimando 14 pessoas e deixando outras tantas feridas. Minha família e eu estávamos logo atrás do ônibus, presenciamos a primeira colisão. Meus pais saíram do veículo para tentar socorrer ou fazer algo. Quando eu e minha irmã fomos agir de igual modo, só que o cinto de segurança dela emperrou. Neste instante, um segundo caminhão seguia a toda a velocidade em nossa direção. Ele ia passar por cima de nosso automóvel. Meu pai segurou minha mãe para que ela não saltasse na pista. Ninguém entende como, mas o caminhoneiro nos viu e desviou, colidindo de frente com outro caminhão. Aquele homem cujo rosto não consigo lembrar, acabou morrendo para não nos matar. Já passei muitas noites procurando uma razão nisto. Não encontrei. Nunca encontrarei.
Há situações neste mundo das quais a assustadora e inconsolável verdade é que ocorrem por menos do que nada, sem uma razão ou motivação a ser esclarecida. Por mais que isto soe cruel e/ou infrutífero, temos que nos conformar com a falta de lógica e bom senso. No entanto, esta ausência deve servir de combustível para uma mudança de atitude, para um
upgrade pessoal; Como diria Ana Carolina,
Só de Sacanagem!
Só para desafiar este desolador pensar, vamos ser mais humanitários, aprender com a diversidade e não fugir dela, estender a não ao invés de julgar, perceber o ser humano como frágil, instável e precioso independente da aparência, crença, gostos e defeitos. Afinal, como olhamos os outros é o reflexo de quem somos. Mesmo que não existam motivos para o mal manifestar-se, vamos agir de acordo com o bem.
Idealista eu?
Uma analise do texto: Impecável vc escreve muito bem. seus textos são sempre muito bons. Adoro ainda mais quando vc fala sobre cinema.
ResponderExcluirConcordo com aquela perte: Eventos como o de Realengo balançam a todos!! E como...
ResponderExcluirTexto incrível. De novo você arrebentou. No caso de Realengo não foi um caso inusitado. E não podemos deixar que isso vire rotina por aqui.
ResponderExcluirhttp://boomnaweb.blogspot.com/
Belo texto!!!
ResponderExcluirQue doidera né?
ResponderExcluirFoi uma coisa q parou o mundo!
achar explicação? nem dá!
As crianças pra voltar pra escola e superarem esse trauma!
foi algo horrivel mesmo!
o pior eh saber
q existem outros tantos loucos soltos por ai!
escreveu bem demais ^^
=*
http://cris2selene.blogspot.com/2011/04/love-history.html
Me fez pensar muito o seu relato do acidente. Mas sobre a violência, é um assunto complicado, quando ela é gratuita podemos culpar a cultura, sociedade, entre outros fatores, mas tem horas que a ideia dentro de uma pessoa faz diferença. E quando ela é obscura, acontecem essas tragédias.
ResponderExcluirimpossivel entender essa tragédia, o mundo hj esqueceu o que é o amor, esqueceu o significado de amar, estamos num mundo muito egoísta para ser sincero
ResponderExcluirPor que? todos nós fizemos essa pergunta diante as tragédias que estão acontecendo... Mas não, não há respostas... Não há como aceitar que uma pessoa faça o que este garoto fez! Acho que Brasil todo está de luto pelas vítimas dessa tragédia! É, está faltando amor entre as pessoas...
ResponderExcluirnossa, apesar da tristeza envolvida sua história não deixa de ser bela. e que tu aproveite bastante a tua vida guria, porque ela é praticamente um milagre. Quanto a história do Realengo ainda não encontrei palavra certa pra descrever :S
ResponderExcluirbelo blog
http://sinsinparadise.blogspot.com/
Nossa, incrível. Incrível mesmo. Fascinou-me! Principalmente o final. Seu blog é lindo, e adorei seus textos! Estou seguindo, aceita parceria? Aguardo. Boa semana =*
ResponderExcluirvc expressa muito bem seus pensamento no texto. parabéns.
ResponderExcluirsobre Realengo, trágico.
e sobre o acidente, o caminhão, seu pais segurando sua mãe, etc... Nossa! Vc descrevendo, parece uma cena de filme, e interessante é que foi em 1 parágrafo. hehehe... (já pensou e fazer roteiros?)
e tenha certeza que não é a única idealista. rsrs.
Deus te abençoe. um abraço.
depois passa no meu, é sobre minhas ilustrações, caricaturas, etc...
http://aleartdigital.blogspot.com/
Gostei do layout e do fundo , a cara do blog haha
ResponderExcluirBrigado pela visita no meu , espero que volte sempre
http://masoqeisso.wordpress.com/
Melhor blog de humor,entre e saia do tédio
Otimo texto...
ResponderExcluirmas prefiro me abster de comentários sobre o caso realengo.
Parabens msm... vc escreve muito bem!
http://freund-27desetembro.blogspot.com/2011/04/na-sombra-da-duvida-um-desabafo-os.html
da uma olhadinha nesse ai ... vc vai gostar.
Mas vc realmente acha que o indivíduo poderia ser diferente? Digo, que ele poderia pensar, agir, sentir de forma diferente? Se não fosse ele em particular seria outro. O problema não é o que ocorreu, muito menos as causas aparentes. Há todo um sistema de coisas para cada ato público. Repare, falaram em Bullying, mas o caso não é acabar com o bullying amando as pessoas, mas sim, ver as causas do próprio bullying. Não sei se consegui expressar da maneira que conseguiria com um post... Abraço!
ResponderExcluirolá Karla,
ResponderExcluirQue Wellington tinha uma personalidade perturbada perversa não se discute. Mas, as humilhações que ele sofreu( jogaram no cesto de lixo e na privada e deram descarga) isso as tvs não exploraram. As tvs deviam ir atrás desses alunos que praticavam buylling contra ele. E a direção da escola q não fez nada à época.
Será que eles estaão satisfeitos agora?????????????
abraços
Admiro esse teu idealismo e bato palmas pra ele. Quisera a humanidade de modo geral ainda pensasse assim.
ResponderExcluirEu me frustro a cada dia com o ser humano (que muitas das vezes se revela pouco humano), mas ainda acredito em possibilidades de mudança, apesar de tudo isso requerer demasiado esforço.
Que seja, né?!
Perfeito, Karla. Idealista, também me considero um. Realmente foi um fato lamentável, isso não se discute, os motivos para tal cometimento do crime? Muitas teorias, hipóteses, mas no fundo não sabemos, afinal, não temos o poder de inavadir a mente de outro. Certo é que facilmente percebemos uma série de problemas que se somam, desconhecendo outros. Em relação ao acidente que você citou, é um caso muito complexo mesmo, acho que tembém faria a mesma pergunta por muito tempo, o porquê?
ResponderExcluirParabéns por mais um belo texto.
Beijo.